A gente se deu tão bem: relato sobre o trabalho coletivo
20 de setembro de 2017
Se não for devagar
Que ao menos seja eterno assim
Sim, este relato fala sobre a banda Móveis Coloniais de Acaju. Pode ser que você não a conheça, ache esse nome uma das coisas mais esquisitas que ouviu e tampouco interesse-se sobre. Mas adianto, este texto pode ser muito interessante! Inspirei-me em leituras sobre Educação (área à qual apaixono-me cada vez mais), principalmente no seguinte trecho assinado coletivamente pela Escola da Ponte.
Talvez por influência de um cotidiano feito de solidariedade, talvez porque a multiplicidade das interpretações suscite um canto a várias vozes, este texto não poderia deixar de ser coletivo. Se houve quem escrevesse uma folhinha, outros colaboraram com algumas linhas, um olhar, um sorriso de acordo, um silêncio. E, porque o todo é um só, o registro surge encadeado e na primeira pessoa…
Identificação à primeira vista! E, como aqueles filmes da vida que passam num pequeno instante, pude sentir novamente um pouco da emoção de ter participado desse grupo musical. Do sonho, dos planos e da satisfação gerada ao fim de show… que sensação boa era aquela! Sei que talvez nunca a sinta novamente, mas tenho orgulho de ter vivido isso.
Por que o trecho acima me inspirou a escrever?! Admito, acho que o período dos sonhos não compreende toda a história da banda (considerando o período 1998-2016) e nem durante toda a minha jornada junto ao grupo (2004-2016). É difícil definir o momento, mas talvez seja adequado considerá-lo durante o ciclo que chamarei de C_mpl_te (mais ou menos compreendido durante os anos 2007 e 2011).
O nome do ciclo faz referência direta ao segundo disco. Chegamos a ele porque este foi o período onde buscamos estabelecer um processo real de coletividade: entre nós, entre os agentes de mercado e, principalmente, o público. Nessa época, estávamos tão envolvidos, que era com felicidade que, às vezes, ouvíamos alguém assobiando a melodia da música O Tempo, bem antes mesmo de trabalhar seriamente nela. Às vezes, na saída do ônibus, após 12 horas de viagem, alguém cantava: “a gente se deu tão bem”… e isso trazia um ar otimista.
Tínhamos, ali, um sonho! Viver para a música, por meio de uma relação de alegria com nosso público. A cada encontro, a felicidade reinaria. Isso contagiava, fez com que produzíssemos clipes, viajássemos durante horas desbravando nosso gigante país em busca desses momentos com essas milhares de pessoas. Fosse em Rio Branco (AC) ou em Nova Porteirinha (MG), Santa Maria (RS) ou Campina Grande (PB)…
Amávamos o que fazíamos! Isso rendeu prêmios, mais shows, música em novela, viagens ao exterior, capa de revista, a Revolta do Acaju, novas amizades e um turbilhão de emoções. As contas eram apertadas, mas levávamos a vida. E, nesse período, fosse com um silêncio, um sorriso ou várias ideias ou projetos, sabíamos que todo o grupo estava envolvido. Talvez um instante único em que nove, dez ou 11 pessoas conseguiam assim interagir. E isso contagiava as pessoas ao redor, fossem aquelas que trabalhavam diretamente conosco ou mesmo por parte do público que, mobilizados digitalmente, nos levaram a João Pessoa (PB) ou à vitória no Prêmio Multishow (2010).
Era incrível! E, hoje, digo que essa coletividade, de fato, existiu naquele ciclo. De alguma maneira, posso afirmar que não tivemos a mesma energia nos anos que seguiram até a pausa nas atividades. E, naturalmente, por esta razão, acredito que não estejamos juntos fisicamente agora. Mas, a cada dia, carrego algumas lições desse período. Certamente, são elas que me fazem acreditar numa educação transformadora hoje.